As lutas sociais estão surgindo na cena pública. Antes, elas apareciam a reboque de outros movimentos. Constituíram o desdobramento radical da Revolução Inglesa, a de 1640, ou da Revolução Francesa, de 1789. Porém, com a década de 1830, elas acontecem por conta própria. 'Os Miseráveis' é a grande obra – ao lado de muitas outras, que vendiam bastante na época – não só a mostrar o espetáculo da pobreza, mas a despertar nossos sentimentos pelos mais pobres. É uma maneira de negar que os operários sejam perigosos. Podem até parecê-lo, na sua fúria justa, mas não o são. Toda uma política de solidariedade com eles, de apoio aos explorados, vai ter nos sentimentos de compaixão, difundidos por Victor Hugo, o seu combustível. Essa política poderá até ser criticada, pelos marxistas, como lacrimosa, piegas, mas ela é fundamental para se entender como uma cultura de massas, vendida aos milhares de exemplares (hoje diríamos, aos milhões), passa a tematizar, não só o amor infeliz de ricas herdeiras órfãs, mas a infelicidade das massas trabalhadoras. É muito melhor do que a mania pela segurança pública que, hoje, a mídia constrói. (trecho do livro pág. 19 em Apresentação, Livro 1)
categoria/autor 6.romance, Victor Hugo
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